Bem, algumas mudanças na cadência do samba durante o século XX, proporcionaram ao ritmo originar outras vertentes, como o samba de breque, o samba canção, o samba rock, o samba de gafieira, o chorinho, o pagode e até a bossa nova.
No início da década de 30, o ex-presidente Getúlio Vargas, principalmente durante o Estado Novo, deu grande apoio à popularização e consolidação do samba carioca, em detrimento de outras variedades do samba nascidas em outras regiões do país e de outros ritmos bastante populares regionalmente. O governo patrocinava apresentações públicas e até mesmo o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, reduto da elite carioca, passou a receber artistas renomados no mundo do samba, além de cassinos e cinemas.
Com o apoio do governo, a programação das rádios tinha a tarefa de tornar internacionalmente conhecido esse ritmo tipicamente brasileiro. Houveram até mesmo alguns programas irradiados para a Alemanha nazista diretamente da escola de samba da Mangueira.
O status de música nacional veio durante a Era Vargas. A elite cultural do Brasil reconheceu a importância do samba, dentre eles o maestro Heitor Villa-Lobos.
Carmem Miranda, "A Pequena Notável", portuguesa de alma brasileira, artista popular da época, contribuiu diretamente para a projeção do samba e do Brasil especialmente nos Estados Unidos através de seus filmes.
O Departamento de Imprensa e Propaganda do governo populista de Getúlio coagia os compositores a abandonarem a temática da malandragem através de políticas de aliciamento e de censura. Um dos objetivos do governo era "desmarginalizar" o samba. A imagem negativa dos malandros e desordeiros aliada aos sambistas, deu lugar a imagem de artistas criativos compositores de "caráter legalista". Exemplo de composição que seguia essa vertente é o samba "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso, gravada por Francisco Alves.
As concentrações urbanas provoracam o aparecimento das primeiras gafieiras, espaço para a dança e palco para novos artistas. O chamado samba de gafieira trás a influência dos ritmos latinos e das orquestras norte-americanas.
No final da década de 50 e durante a década de 60, nasceu a bossa nova. Burguesa, nasceu na zona sul do Rio de Janeiro, fortemente influenciada pelo jazz, a bossa nova é um marco dentro da música popular brasileira. Dentre seus percursores estão Johnny Alf, João Donato e Luís Bonfá, reinventada por João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, tendo como seguidores nomes como Carlos Lyra e Roberto Menescal.
No final da década de 60, surgiu o sambalanço, uma outra vertente da bossa nova, muito tocado nos bailes suburbanos das décadas de 60, 70 e 80. Esse estilo foi cantado por nomes como Elza Soares, Miltinho e Bebeto.
Com o nascimento da bossa nova, o samba se afastou um pouco de suas raízes populares. À partir de um festival no Carnegie Hall em Nova York em 1962, a bossa nova alcançou sucesso mundial. Porém, outros artistas como Chico Buarque, Martinho da Vila e Paulinho da Viola defendiam o retorno do samba e de sua batida original. Sendo assim, parte do movimento bossa nova aproximou-se de sambistas tradicionais, como Candeia, Cartola, Monarco e Nelson Cavaquinho.
Nelson Cavaquinho e Cartola
Também com raíz na bossa nova, Jorge Ben Jor deu sua contribuição mesclando nosso samba com o rhythm and blues norte americano, que deu origem ao samba-rock ou swing.
Ainda no início da década de 60, foi criado o "Movimento de Revitalização do Samba de Raiz", promovido pelo Centro Popular de Cultura em parceria com a união Nacional dos estudantes. Durante esse tempo, surgiu o bar Zicartola, os espetáculos no Teatro de Arena e no Teatro Santa Rosa, além de musicais como "Rosa de Ouro", produzido por Hermínio Bello de Carvalho, que revelou Araci Cortes e Clementina de Jesus.
Na décadas dos festivais de música, o samba, excluído, encontrou abrigo na Bienal do Samba. Surgiram ainda os tradicionais blocos carnavalescos Bafo da Onça, do Catumbi e Cacique de Ramos de Olaria.
E nessa década tão musical, surgiu ainda o samba funk, que mesclava o funk norte-americano recém chegado em terras tupiniquins ao samba através do pianista Dom Salvador.
No próximo texto, continuo a conversar sobre o samba moderno. Chegaremos no século XXI e no samba dos dias atuais.
Espero você!
Dulce Sales
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