domingo, 4 de novembro de 2012

Samba contemporâneo: de Carmem Miranda à Zeca Pagodinho - parte 1

Vamos a terceira geranção do samba moderno. É mais de um século de história, há muito a dizer. Por isso, decidi dividir essa última fase em 2 textos. Vamos começar?
Bem, algumas mudanças na cadência do samba durante o século XX, proporcionaram ao ritmo originar outras vertentes, como o samba de breque, o samba canção, o samba rock, o samba de gafieira, o chorinho, o pagode e até a bossa nova.
No início da década de 30, o ex-presidente Getúlio Vargas, principalmente durante o Estado Novo, deu grande apoio à popularização e consolidação do samba carioca, em detrimento de outras variedades do samba nascidas em outras regiões do país e de outros ritmos bastante populares regionalmente. O governo patrocinava apresentações públicas e até mesmo o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, reduto da elite carioca, passou a receber artistas renomados no mundo do samba, além de cassinos e cinemas.
Com o apoio do governo, a programação das rádios tinha a tarefa de tornar internacionalmente conhecido esse ritmo tipicamente brasileiro. Houveram até mesmo alguns programas irradiados para a Alemanha nazista diretamente da escola de samba da Mangueira.
O status de música nacional veio durante a Era Vargas. A elite cultural do Brasil reconheceu a importância do samba, dentre eles o maestro Heitor Villa-Lobos.
Carmem Miranda, "A Pequena Notável", portuguesa de alma brasileira, artista popular da época, contribuiu diretamente para a projeção do samba e do Brasil especialmente nos Estados Unidos através de seus filmes.
O Departamento de Imprensa e Propaganda do governo populista de Getúlio coagia os compositores a abandonarem a temática da malandragem através de políticas de aliciamento e de censura. Um dos objetivos do governo era "desmarginalizar" o samba. A imagem negativa dos malandros e desordeiros aliada aos sambistas, deu lugar a imagem de artistas criativos compositores de "caráter legalista". Exemplo de composição que seguia essa vertente é o samba "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso, gravada por Francisco Alves.
Mas nem todos se sujeitavam silenciosos aos designos do governo militar. Haviam aqueles que, de maneira sutil, usavam da ironia para falar da políticas da época, tal qual o samba "Recenseamento" de Assis Valente.
À partir da década de 40 e ao longo da década de 50, o samba recebeu influências de ritmos latinos e norte-americanos. Os instrumentos de percussão, aliados aos instrumentos de corda, tais como o cavaquinho, o banjo e o violão, uniram-se aos trombones, trompetes, flautas e clarinetas vindos da música dos EUA do pós-guerra.
As concentrações urbanas provoracam o aparecimento das primeiras gafieiras, espaço para a dança e palco para novos artistas. O chamado samba de gafieira trás a influência dos ritmos latinos e das orquestras norte-americanas.
No final da década de 50 e durante a década de 60, nasceu a bossa nova. Burguesa, nasceu na zona sul do Rio de Janeiro, fortemente influenciada pelo jazz, a bossa nova é um marco dentro da música popular brasileira. Dentre seus percursores estão Johnny Alf, João Donato e Luís Bonfá, reinventada por João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, tendo como seguidores nomes como Carlos Lyra e Roberto Menescal.
No final da década de 60, surgiu o sambalanço, uma outra vertente da bossa nova, muito tocado nos bailes suburbanos das décadas de 60, 70 e 80. Esse estilo foi cantado por nomes como Elza Soares, Miltinho e Bebeto.
Com o nascimento da bossa nova, o samba se afastou um pouco de suas raízes populares. À partir de um festival no Carnegie Hall em Nova York em 1962, a bossa nova alcançou sucesso mundial. Porém, outros artistas como Chico Buarque, Martinho da Vila e Paulinho da Viola defendiam o retorno do samba e de sua batida original. Sendo assim, parte do movimento bossa nova aproximou-se de sambistas tradicionais, como Candeia, Cartola, Monarco e Nelson Cavaquinho.
Nelson Cavaquinho e Cartola

Também com raíz na bossa nova, Jorge Ben Jor deu sua contribuição mesclando nosso samba com o rhythm and blues norte americano, que deu origem ao samba-rock ou swing.
Ainda no início da década de 60, foi criado o "Movimento de Revitalização do Samba de Raiz", promovido pelo Centro Popular de Cultura em parceria com a união Nacional dos estudantes. Durante esse tempo, surgiu o bar Zicartola, os espetáculos no Teatro de Arena e no Teatro Santa Rosa, além de musicais como "Rosa de Ouro", produzido por Hermínio Bello de Carvalho, que revelou Araci Cortes e Clementina de Jesus.
Na décadas dos festivais de música, o samba, excluído, encontrou abrigo na Bienal do Samba. Surgiram ainda os tradicionais blocos carnavalescos Bafo da Onça, do Catumbi e Cacique de Ramos de Olaria.

E nessa década tão musical, surgiu ainda o samba funk, que mesclava o funk norte-americano recém chegado em terras tupiniquins ao samba através do pianista Dom Salvador.
No próximo texto, continuo a conversar sobre o samba moderno. Chegaremos no século XXI e no samba dos dias atuais.
Espero você!


Dulce Sales

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