domingo, 30 de setembro de 2012

Agenda Cultural outubro/2012

07/out - SAMBA DA ALFORRIA recebe João Martins e Makley Matos no 'Samba Luzia' no Rio de Janeiro, à partir das 18h.
 
10/out - Estreia da Roda de Samba "João Martins à moda antiga" no bar 'Favellas da Lapa' no Rio de Janeiro, todas as terças, à partir das 18h.
14/out - Evento em comemoração aos 2 anos do Samba da Alforria - convidado Jorge Aragão no 'Renascença Clube' no Rio de Janeiro, à partir das 16h.

Entrevista com Murilo de Souza

Na estreia do Portal Afro, convidamos Murilo Alves de Sousa, músico organizador do grupo de dança afro Ylajú e idealizador do Projeto Dara Palmares em Volta Redonda-RJ., para contar mais a respeito desse projeto que reúne oficinas de percussão, canto, dança e informática para crianças e jovens. Com sede no Clube Palmares, o projeto conta com o patrocínio do governo federal e atende a aproximadamente 50 (cinquenta) jovens da cidade.
Fonte: Murilo de Souza
Portal Afro: Murilo, de onde surgiu a ideia da criação do grupo de dança Ylajú e do Projeto Dara Palmares? Um aconteceu em decorrência do outro?
Murilo: O projeto de dança era um sonho antigo e em conversa com minha amiga Janaína Silva, resolvemos criar o grupo de dança afro. Minha responsabilidade é a percussão e a Janaína trabalha a dança. No começo foi uma loucura, montávamos as peças, ensaiávamos as coreografias e os cantos aqui em casa mesmo. Era eu quem confeccionava as roupas e as indumentárias. No dia 19.11.2006 fizemos nossa 1ª apresentação no Clube Santos em Pinheiral. O sucesso foi tanto que começamos a sonhar mais alto. Num primeiro momento, pensamos em uma companhia de dança afro. Depois pensamos num projeto maior. Muitos políticos e candidatos nos procuraram com promessas de ajuda, então, coloquei nossas ideias num papel, elaboramos um projeto e mostrei a todos que nos ofereciam ajuda, mas nada aconteceu. Certa vez, a representante de uma deputada me procurou e pediu uma cópia do projeto que eu havia montado. Pediu ainda uma planilha com todo material necessário para o desenvolvimento do trabalho, como instrumentos e roupas. Eu precisava ainda de um nome forte para o projeto, um nome em dialeto yorubá. Escolhi “Ylajú”, que significa “tradição” em português. Fiz exatamente tudo como me foi pedido. O projeto foi para Brasília em 2007 porque precisava ser aprovado pelo Ministério da Cultura. Acredito que o nome escolhido foi “ewá dará”: o projeto foi aprovado em 2009, claro, com modificações. Em seguida, o projeto foi parar nas mãos do Sr. Laureano, diretor do Clube Palmares de Volta Redonda, que, sabendo da minha participação ativa na elaboração do projeto, nos cedeu o espaço que precisávamos para a implantação do projeto e convidou Janaína e eu para sermos os educadores. Hoje o projeto se chama Dará Palmares e surgiu sim em decorrência do grupo de dança afro Ylajú.
 
Portal Afro: Qual(is) é(são) o(s) principal(is) objetivo(s) do projeto?
Murilo: Buscar, resgatar, manter e divulgar a cultura afro brasileira.
 
Portal Afro: Hoje o projeto atinge aproximadamente 50 (cinquenta) jovens de Volta Redonda. Qual é o critério para a inscrição? Existem vagas abertas? Como podem ser feitas as inscrições?
Murilo: Bem, temos várias oficinas. Cada oficina é oferecida para até 20 (vinte) alunos de ambos os sexos à partir dos 10 anos de idade. Para as oficinas de dança e percussão é preciso que os menores de idade tragam seus pais para a realização da matrícula. Existem vagas abertas em Volta Redonda e as inscrições podem ser feitas na sede do Clube Palmares ou em contato comigo. Em Barra Mansa já estamos com uma turma de percussão também, onde minhas aulas tem cunho religioso. Em Volta Redonda tenho as aulas de percussão voltadas para os ritmos de axé, olodum, timbalada, etc.
 
Portal Afro: Você é um percussionista conhecido em nossa região. Quando, como e com quem você aprendeu a tocar? Além da percussão, você toca outro instrumento musical?
Murilo: Sou autodidata. Aprendi vendo e ouvindo meu pai que adorava música e festas. Hoje toco qualquer instrumento de percussão.
 
Portal Afro: Deixe-nos uma mensagem sobre a importância da divulgação da cultura afro no Brasil:
Murilo: Dar visibilidade à cultura e à memória coletiva afro-brasileira, tanto no que diz respeito à História e Cultura Afro-Brasileira e Africana quanto às questões do cotidiano que ligam o presente ao passado. É preciso contribuir para a emergência das identidades individuais e coletivas presentes na cultura afro-brasileira, por meio do resgate e registro de valores compartilhados, promovendo a autoestima da população negra.

Baiano de coração

Quando recebi a proposta de escrever uma coluna de arte para o Portal Afro, me senti lisongeado e com medo, porque afinal de contas escrever sofre o que faço e sobre o que mais amo, é sim muito complicado, mas aceitei a proposta de coração e mente abertos, e confesso que me sinto a vontade em escrever aqui por conta da proposta do site, que não é só sobre candomblé ou qualquer outro aspecto específico da cultura afro, e sim por abranger toda ela e falar sobre sua resistência perante todos os obstáculos e dificuldades pela qual passou todos esses anos para se manter viva.
Pensando em resistência cultural e na grandeza da influência da mesma na nossa sociedade e até em nosso cotidiano, resolvi escrever sobre aquele que é o maior representante dessa cultura no mundo, um ícone não apenas pelo seu talento, mas pela curiosa escolha que fez: a de ser brasileiro, baiano e negro de fé e coração.
Hector Julio Páride Bernabó ou Carybé (7 de fevereiro de 1911 — 2 de outubro de 1997). Artista baiano, como gostava de ser chamado, acreditava na força da miscigenação das Américas. Retratou a cultura do povo da Bahia como ninguém. Nascido em Lanús, Argentina, mas foi no Rio de Janeiro na década de 20, quando ainda criança no grupo de escoteiros do Clube de Regatas do Flamengo, ganhou o apelido de Carybé, apelido esse que o seguiu por toda vida, fazendo com que deixasse de ser conhecido com Hector e passase a ser apenas Carybé.
Carybé é uma artista de versatilidade ímpar. Durante sua vida acumulou prêmios, viagens e ofícios: foi ceramista, gravurista, xilogravurista, pintor, jornalista, historiador e até tocou pandeiro com Carmem Miranda. E como jornalista no jornal "El Pregon" no ano de 1938, durante uma longa viagem a trabalho, Carybé recebe na Bahia a notícia que o jornal para o qual trabalhava havia falido, fato este que descreveu da seguinte maneira:
“Na posta restante não havia dinheiro, só uma carta de meus irmãos dizendo que o jornal tinha falido, que estavam tão duros quanto eu, que tivesse boa sorte... E tive!
Voltava, depois de seis meses de gostoso miserê, com os desenhos e aquarelas de minha primeira exposição individual, e com a certeza de que meu lugar, como pintor, era na Bahia."
Apaixonado confesso pelo Brasil e principalmente pela Bahia, Carybé, em 1957, oficializa sua relação com o país que o acolheu, naturalizando-se brasileiro. No mesmo ano é confirmado Obá de Xangô do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, como Otun Onã Shokun e Iji Apógan na casa de Omolú.
Desde de então, Carybé passa a mostrar a Bahia, seu povo, seus costumes e crenças para o mundo. Hoje existem painéis e obras de Carybé espalhadas ao redor do mundo, difundindo até hoje a nossa cultura expressa de uma maneira única, não apenas por sua técnica, e sim por sua paixão. Ele retratou com genialidade os Orixás, os Ritos de Camdomblé, sem agredir seus costumes e respeitando os limites. Mostrou a essência de todo o estado da Bahia, sua capital, o interior, o recôncavo. Sua estética era intrigante, de traços simples, formas geométricas minimistas, quase cubistas, cores fortes em seus painéis e seus trabalhos a óleo, sem perder a suavidade. Seus trabalhos são uma referência tão grande, que mesmos os leigos são capazes de reconhecer suas obras.
A estética de Carybé sempre foi para mim uma referência; ele me é quase um mestre que influenciou-me de maneira grandiosa. Detalhes de sua obra mudaram minha visão de perspectiva, pois ele brincava, quase distorcia a perspectiva em seus trabalhos. Outra caracterisca muito interessante, uma marca particular, são os persanagens sem rostos. Isso me chamou a atenção por ser a melhor maneira de expressar um povo, não apenas pessoas.
Como toda jornada tem um fim, a de Carybé teve seu ponto final ( talvez uma exclamação) em 1º de outubro de 1997. Certamente não por coincidência, faleceu no Terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá.
Os principais acervos desse gênio estão espalhados por todo mundo. Abaixo está uma lista  simplificada dos principais locais onde é possível encontrar alguma obra desse artista. É possível notar, meu amigo leitor, a proporção que nossa cultura tomou através das mãos desse Obá de Xangô, argentino com alma negra:
*Acervo Banco Itaú - São Paulo SP
*Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa (Portugal)
*Fundação Raymundo de Castro Maya - Rio de Janeiro RJ
*MAM - Salvador BA
*MAM - São Paulo SP
*MoMA - Nova York (Estados Unidos)
*Museu Afro-Brasileiro - Salvador BA
*Museu da Cidade - Salvador BA
*Museu Nacional de Arte Contemporânea - Lisboa (Portugal)
*Museu de Arte da Bahia - Salvador BA
*Casa da Manchete - Rio de Janeiro RJ
*Museum Rade - Reinbek (Alemanha)
*Núcleo de Artes do Desenbanco - Salvador BA
*Pinacoteca Ruben Berta - Porto Alegre RS
Não posso deixar de citar também que há painéis de Carybé em Miami-EUA, Argentina, Espanha e em outros estados brasileiros.
Encerro esse "papo", com as palavras de seu grande e inseparavél amigo Jorge Amado em "O Capeta Carybé", obra na qual Jorge Amando registra a vida e a obra de Carybé, que de fato parece quase uma obra de ficção:
"Exemplo notável em sua arte, que recria a realidade do país e da vida popular que ele conhece como poucos, por tê-la vivido como ninguém".

Thiago Chagas

II Concurso Nacional de Pesquisa sobre Cultura Afro-Brasileira está com inscrições abertas até 1º de novembro



A Fundação Cultural Palmares (FCP/MinC), através do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra, lançou edital do II Concurso Nacional de Pesquisa sobre Cultura Afro-Brasileira – Prêmio Palmares 2012. O concurso tem o objetivo de estimular a produção científica e dar visibilidade aos trabalhos acadêmicos que discorram sobre a Cultura Afro-Brasileira. As inscrições dos trabalhos poderão ser realizadas até o dia 1º de novembro.

O que é essa tal de "cultura"?

Olá amigos!
Estou muito feliz em escrever para esse novo blog, o Portal Afro. Faz tempo tenho dito "não" a alguns convites para escrever em blogs, mas dessa vez foi diferente. A proposta é bem bacana, bem política, mas não partidária, sabe?! A divulgação dessa cultura tão especial para nós brasileiros é fundamental e já há alguns anos tenho visto algumas mudanças nesse sentido, por exemplo, a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura dos Povos Africanos nas escolas e nos cursos de licenciatura em História.
Tenho visto também algumas expressões culturais saindo "do gueto" e invadindo "a burguesia", tal qual as rodas de samba em bares e casas de médio e alto padrão. Vejo ainda os padrões de beleza mudando e o valor dos looks black ressurgindo.
Mas antes de iniciarmos esse nosso bate-papo semanal, gostaria de conceituar o que exatamente se entende por cultura afro-brasileira. Considero isso bastante importante para que em posts futuros, todos possam entender do que se está falando. A proposta é que a informação possa contribuir para a construção do conhecimento em cada um de nós.
Foto: Biblioteca Virtual
O termo cultura afro-brasileira define o conjunto de manifestações culturais do Brasil que sofreram influência da cultura africana desde os tempos do Brasil-colônia até os dias atuais. Nossa cultura sofreu influência ainda de algumas culturas européias trazidas pelos colonizadores e pelos povos que aqui buscaram residência e pela cultura indígena, nativa na época do descobrimento.
Apesar de não ser a única formadora da cultura brasileira, a cultura africana é até os dias de hoje visivelmente encontrada nos mais variados aspectos da nossa cultura, como a música, a dança, a religião, a culinária, o folclore, as festas populares, a arte e a língua. Nos estados brasileiros onde o comércio de escravos era mais intenso, esses traços são ainda mais marcantes, como no Maranhão, Pernambuco, Alagoas e Bahia, onde havia a extração de cana-de-açúcar; e em Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, onde havia ainda a extração de minério.
Podemos afirmar então que cultura é tudo aquilo que forma, que torna um povo uma unidade. É o que nos torna iguais, com a mesma origem.
Impossível negar a importante participação do povo africano em nosso cotidiano. Quem de nós não escuta aquele pagode (derivado do samba), não tem "samba no pé", não come uma feijoada com couve, farofa e laranja? Há ainda aqueles que querem que "o moleque dance maxixe e lhe faça um cafuné"!
Agora que entendemos o que é essa tal cultura afro-brasileira, já é chegada a hora de conhecê-la melhor.
No nosso próximo encontro, espero você para falarmos sobre a culinária afro-brasileira. Envie sugestões e dúvidas para portalafro@hotmail.com
Espero você! 
Abraços!

Dulce Sales