domingo, 28 de outubro de 2012

2° Encontro de arte e cultura afro-brasileira da Costa do Descobrimento

A Semana Zumbi é uma proposta que visa valorizar a cultura Afro em todas as nuances que esta pode ser manifesta, e o objetivo e integrar grupos e agentes culturais das mais variadas manifestações existente no território da Costa do Descobrimento por meio de palestras, desfile de moda afro, apresentação de dança, apresentação musical, roda de capoeira, pintura, escultura e oficinas temáticas, no período de 12 a 17 de novembro, mês da comemoração da consciência negra.
As atividades serão realizadas pelo Ponto de Cultura Capoeira Raça, no município de Eunápolis em parceria com: Ponto de Cultura Movimento Cultural Arte e Manhã (Caravelas), ONG Brasil Chama África, Observatório do Racismo Virtual, Coordenação de Promoção da Igualdade Racial, Galeria Kel , Galeria Afro e a UNEB (Eunápolis).
Wilson Bittencourt

Fonte:http://www.osollo.com.br/online/index.php/arte-e-cultura/9483-2d-encontro-de-arte-e-cultura-afro-brasileira-da-costa-do-descobrimento

Lendas do Orisás por Guto Reason


domingo, 21 de outubro de 2012

Quente ou frio?

Quem nunca ouviu essa história:“A baiana me perguntou se eu queria quente ou frio, e eu respondi quente, lógico! Daí fui comer e não consegui porque estava muito picante...” ?
Pois é, a culpa disso é do dendê e não da pimenta como muitos pensam. O azeite de dendê, quando usado para fritar o acarajé, deixa a massa muito picante. Lógico que as baianas também tem um molho de pimenta bastante picante, mas delicioso!
De fato o azeite de dendê é uma iguaria maravilhosa e “perigosa” para os mais sensíveis a ele. Culpado por inúmeros desarranjos intestinais, esse líquido avermelhado foi trazido pelos principais fundadores de nossa cultura, em nome de seus deuses, em caravelas portuguesas à partir do século XVI, coincidindo com o início dos tráficos de escravos entre a África e o Brasil.
Hoje é produzido em larga escala no Brasil e é quase indispensável em uma boa moqueca. No caruru, abará, aberém, acarajé, vatapá e xinxim de galinha, ele também é fundamental. Nas casas de Candomblé, não só nas comidas ritualísticas, o “Epô” como é conhecido, foi um presente de “Barà” ou “Esú” (pronuncia-se Exú), que inventou tanto a faca quanto o azeite de dendê. Essa iguaria trazida de Gana (apesar de utilizado em quase toda a África), também é utilizado em rituais e até na limpeza de certos objetos ritualísticos.
Consumido há mais de 5000 anos, o azeite de dendê, hoje é o segundo óleo mais produzido e consumido no mundo, representando 18,49% da produção e 20,40% do consumo mundial, e poderíamos chamar sua história de “A saga da palma - da costa africana para o mundo, passando pelo tabuleiro da baiana”.
Extraído a partir do fruto da palmeira conhecida como Dendezeiro (Elaeis guineensis), o azeite de dendê é hoje utilizado não só na culinária, mas também na fabricação de sabão e vela, para proteção de folhas-de-flandres e chapas de aço, fabricação de graxas e lubrificantes e artigos vulcanizados (o que é uma novidade para mim). A extração do óleo é um processo muito demorado e ocorre de várias maneiras. Mesmo no processo industrial, o processo é bem rústico. Geralmente se extrai de maneira mecânica, prensando o fruto descascado ou fervendo o mesmo. Eu já experimentei extrair o óleo em casa. Foi uma ótima experiência, apesar de nunca mais fazer novamente devido ao tempo que se gasta e o difícil acesso ao fruto.
Pois bem, essa coluna não estaria completa sem uma boa receita com dendê, então aí vai o Camarão Tropical:
Ingredientes:
400 gramas de tomate, cebola e pimentão.
250 gramas de camarão cozido.
01 colher de sopa de azeite de dendê e outra de azeite
Chuchu, cenoura e batata, 100 gramas de cada
02 xícaras de molho de tomate
50 gramas de abacaxi
Azeite de oliva
Cheiro verde, coentro e sal a gosto
1/2 litro de leite de coco
02 colheres de sopa de amido de milho dissolvido em água
Preparo:
Na frigideira, o azeite de oliva e a metade do óleo de dendê para fritar o camarão. Separe. Em outra panela, o restante do dendê para refogar as verduras e legumes. Junte o molho de tomate, o leite de coco. Misture o camarão, acerte o sal e acrescente o abacaxi. Sirva na casca do coco.

Thiago Chagas

Lendas dos Orisás por Guto Reason


Minicurso sobre patrimônio cultural afro-brasileiro

O projeto de pesquisa e extensão “Mapeamento das Casas e Terreiros de Religiões de Matriz Afro-brasileira na cidade de Santarém/Pará” coordenado pela professora Carla Ramos, do Centro de Ciências da Sociedade (ICS) da UFOPA promoverá, nos dias 22 e 23 de outubro de 2012, o minicurso “Patrimônio Cultural Afro-brasileiro e o Estudo das Relações Raciais no Brasil”. O curso será ministrado pela professora Alessandra Lima, consultora da UNESCO/IPHANOrganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura/Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O objetivo da ação é promover reflexão sobre a importância do reconhecimento do patrimônio cultural afro-brasileiro nos processos de constituição de identidades e de combate ao racismo. O público-alvo são educadores – especialmente professores da rede pública –, estudantes das diversas áreas, membros das comunidades de terreiros e demais interessados no assunto.
Para mais detalhes sobre os objetivos do evento e os temas que serão abordados no minicurso, clique AQUI.
Inscrições
O minicurso será realizado das 9h às 12h e das 14h às 17h, nos dias 22 e 23, na sala 304 do Amazônia Boulevard (Av. Mendonça Furtado, 2946). As inscrições serão feitas gratuitamente nos dias e no local do evento. As vagas são limitadas. Para mais informações, os interessados podem entrar em contato pelo e-mail: carlotaramos@yahoo.com.br
Jussara Kishi – Comunicação/UFOPA

Fonte: http://www.ufopa.edu.br/noticias/2012/outubro/minicurso-sobre-patrimonio-cultural-afro-brasileiro

As origens do samba - um ritmo, uma dança

Há anos atrás, ainda na faculdade, montei uma aula sobre as origens do samba. A história é tão linda e fascinante, que precisarei de três ou quatro semanas para contar tudo o que encontrei em minhas pesquisas.
Resolvi começar essa semana. Espero que divirtam-se nessa viagem ao tempo tanto quanto eu.
O “samba” é um gênero musical do qual deriva um tipo de dança. Existem várias versões acerca do nascimento do termo “samba”. Uma delas afirma ser originário do termo “zambra” ou “zamba”, oriundo da língua árabe. Outra diz que é originário de uma das muitas língua africanas, possivelmente do quimbundo, onde “sam” significa “dar” e “ba” significa “receber” ou “coisa que cai”. Numa outra versão, o termo viria da palavra também africana “semba” que significa “umbigada”.
Em meados do século XIX, a palavra “samba” definia diferentes tipos de música introduzidas pelos escravos africanos no Brasil, que eram sempre conduzidas por batuques produzidos por atabaques (instrumentos de percussão) e com o passar dos anos, assumiu características particulares de cada região do país. Hoje o samba é considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.
O primeiro ritmo denominado samba surgiu no Recôncavo Baiano e foi denominado samba de roda. Tocado por atabaques, pandeiros, berimbau, violas e chocalhos, o samba de roda designa uma mistura de dança, música, festa e poesia. O samba de roda baiano tornou-se em 2005, Patrimônio da Humanidade da UNESCO.
Quando foi levado para várias partes do Brasil, inclusive para o Rio de Janeiro, na época capital do Brasil. E foi no Rio de Janeiro que o samba tornou a cidade conhecida como a capital mundial do samba brasileiro. Foi no Rio de Janeiro ainda que o samba se estabeleceu especialmente na zona urbana como movimento social, como uma forma do negro enfrentar a perseguição e a rejeição de toda uma sociedade branca-burguesa, que via nas manifestações culturais negras, uma violação dos valores morais, atribuindo aos negros desde uma simples confusão até supostos rituais demoníacos através do culto aos orisás do candomblé, religião importantíssima para o povo africano.
No final do século XIX, início do século XX, o samba cantado e dançado pelos negros, encontrou outros gêneros musicais da época, como a polca, o maxixe, o lundu, o xote, entre outros. Sob essas influências, o samba adquiriu um caráter particular em cada estado do Brasil. No Rio de Janeiro, o samba carioca saiu da categoria “regional”, alcançando a condição de símbolo da identidade nacional brasileira na década de 30 até os dias atuais.
Considero a história do samba dividida algumas gerações. A primeira delas iniciou em 1917 com a gravação do primeiro samba no Brasil chamado “Pelo telefone”, de autoria de Donga (Ernesto dos Santos) com co-autoria de Mauro de Almeida, cronista carnavalesco.
Na verdade, “Pelo telefone” foi uma criação coletiva de músicos que participavam das festas na casa de tia Ciata, mas foi registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional. Foi a primeira composição a alcançar sucesso como “samba” e contribuiu muito para a divulgação e popularização do gênero, que inicialmente foi associado ao carnaval e posteriormente ganhou seu lugar no mercado musical.
Ainda nessa primeira geração, surgiram Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Pixinguinha e Sinhô, que compunham um samba que, devido a sua influência, foram chamados de sambas-maxixe.
Na próxima semana, espero vocês para falarmos daquela que considero a segunda geração do samba no Brasil, onde surgiram os compositores dos blocos carnavalescos.

Dulce Sales

domingo, 14 de outubro de 2012

A arte Yorubá e sua relação com o divino

Minha admiração pela influencia estética africana no Brasil é tanta que resolvi falar um pouco sobre o assunto.
Da África até Brasil muita coisa aconteceu e se modificou, por isso resolvi em um texto breve e curto (muito mais curto do que desejava) contando fatos que deram origem a toda beleza de um povo e a sua evolução. Então, deleitem-se com essa que, na minha opinão, é a mais rica cultura do mundo.
Na maioria das culturas ditas "primitivas", a arte sempre teve papel importante nas tradições religiosas, não sendo diferente na cultura Yorubá. A arte desenvolve um papel de importância ímpar e isso se deve ao fato dessas culturas serem tradicionalmente orais.
Arte africana
Talvez a mais conhecida e importante sob o aspecto arqueológico seja a de Obalufon, rei que conseguiu unir todo o territorio Yorubá, partindo da cidade de Ifé. Existem contradições quanto a informação que Obalufon seria Ododuwa (orixá das casas de Keto do Brasil), o grande rei que deu origem as tradições religiosas do povo Yorubá. Tais tradições teriam dado início ao culto do Candomblé de Keto no Brasil, na Casa Branca do Engenho Velho em Salvador. Em um ato de resistência cultural, Iya Nassô Okà, uma aprincesa de Yoyó, conhecida cidade de reino Yorubá, com a ajuda de outros de seu povo, instituiram oque seria para eles um "pedaço da África no Brasil". Claro que com o passar dos anos, a estética das roupas e até de outros elementos da religião sofreram interferências.
Obalufon
A máscara fúnebre de Obalufon hoje se encontra no museu do Instituto Pierre Verger na França. Originalmente raspava-se a cabeça e a barba e essas erão costuradas nas máscaras em meio a um ritual que poderia ser considerado mais como um festejo do que como um ritual fúnebre.
Sendo a religião Yorubá um culto aos ancestrais, alguns estudiosos das religiões afro-descendentes brasileiras, associaram Obalufon ao orixá Oxalufan, dizendo que Obá (título de nobreza) e Lufon (se pronuciaria Lufan) seria seu nome.
Contradições à parte, o fato é que Obalufon depois de sua morte, deixou seus herdeiros espalhados pelas cidades do reino Yorubá. Suas cinco esposas (que eram as cinco Yabás, orixás femininos) deram à luz aos orixás masculinos (Omborós), mas existe uma região do reino Yorubá em especial, onde as máscaras são a base do culto religioso. Esse povo chamado Gelede, é hoje uma sociedade secreta que cultua o feminino. Esse culto é voltado às Iyà Amim Xoronga, as mulheres mais velhas do reino Yorubá e que são consideradas as bruxas (Àjés). No Brasil, uma pequena parte dos sacerdotes do Candomblé cultuam essas forças e uma grande parte as teme, talvez em virtude das lendas associadadas à elas. Nessa sociedade secreta, os homes usam máscaras para se passarem por mulheres, como uma forma de aplacar essa força, devido ao seu poder tanto construtivo quanto destrutivo, e se vestem com ricas roupas feminas e jóias imponentes.
Máscara Gelede
As máscaras Gelede são ricas em elementos místicos e estéticos. Existem máscaras diferentes para cada ritual e força a ser invocada. Como é uma tradição ancestral, muitas delas são usadas para representar essas forças ancestrais e possui detalhes esculpidos que representam o que dessas forças se deseja. As mais antigas foram feitas de bronze. Atualmente elas são confeccionadas em madeira e são em grande parte coloridas, o que não foge à regra da arte africana tão rica em cores, com muitos elementos da natureza retradas, cada um com seu significado mítico e sua importância hierárquica, pois as máscaras também são usadas para diferenciar os adeptos quanto à sua posição na hieráquia dessa sociedade.
Máscara Gelede
No Brasil, as máscaras deram uma grande contribuição para os chamados "aparamentos" dos orixás nas casas de Candomblé e nas roupas dos "Egunguns", no culto ao mesmo. Nas casas de "Egunguns", as roupas ritualísticas usadas durante o transe, cobrem todo o corpo e rosto. Esse culto teve também uma interferencia cultural européia, mais bem menos que o candomblé.
Máscara Gelede
Em se tratando de vestimentas, o povo Yorubá teve durante sua evolução estética a influência da região muçulmana na África com o que é chamado de "alaká" no Brasil, e não podemos esquecer da influencia da estética africana na nossa cultura, com suas cores, formas e estampas, estética essa que até hoje é difundida pelo mundo através da alta costura, por sua qualidade incontestável.
Quem nunca admirou as baianas? Pois bem, esse é o maior exemplo de evolção estética que temos como visualizar. Elas são super coloridas com seus "tobossis" enormes e coloridos, e suas vestes pesadas e armadas por anáguas. As saias armadas são inegavelmente influência européia, porém o os "ojás" e "panos da costa" que são postos por cima das "batas" são de origem africana.
Baianas
Os colares, pulseras e brincos grandes são na verdade, adaptações dos ornamentos originais, pois na África as mulheres tem o hábito de se enfeitar por motivos religiosos e não por vaidade. Os colares, por exemplo, se devem ao fato de por muitos anos as mulheres do candomblé terem sido proibidas de usarem suas "contas" (colares de cunho ritualistico).
Essa evolução dada por adaptação, em virtude das proibições que o povo negro sofreu no Brasil, gerou uma estética rica e admirável, e não podemos negar que essa evolução tambem é uma linda demostração da força e resistência cultural desse povo, de pele linda e formas imponentes que ajudou a gerar toda a cultura de um país extremamente rico.
Bem, esse texto foi também um depoimento pessoal sobre interferência cultural. Aqui tivemos um resultado belíssimo, mas a interferência cultural pode ser desastrosa.

Thiago Chagas

Rotinas do Ilê por Guto Reason


Museu Afro Brasil exibe arte dos povos africanos desde o século V a.C.

Mostra abriga mais de 150 peças de diversas tribos até os dias atuais
Mais de 150 objetos revelam as características etnológicas, antropológicas, históricas e aspectos da arte tradicional e contemporânea dos povos africanos desde o século 5 a.C. até os dias atuais.
A exposição abriga peças produzidas pelos povos Fanti, Iorubá, Tuareg, Bakuba, Bamana, Kuba, Kota, Fang e Bamileke, além de um conjunto de xilogravuras do gravador Hélio de Oliveira (1929-1962), cujas temáticas estão relacionadas ao universo do candomblé, esculturas de símbolos da religiosidade afro-brasileira do baiano Rubem Valentim (1922-1991), e criações próprias do português José de Guimarães (1939).
SERVIÇO
Exposição Africanas e Africanismos
Diariamente, das 10h às 18h
Museu Afro Brasil (Rua Pedro Álvares Cabral, s/nº - Pavilhão Manoel da Nóbrega - Parque do Ibirapuera, portão 10 - Sul - São Paulo)
Telefone (11) 5579-8542
Entrada franca. Classificação: livre
Até 12 de dezembro

Fonte: http://saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=223101&c=6

O surgimento das favelas no Brasil

Após a vitória na Guerra de Canudos na Bahia, os soldados do exército brasileiro regressaram ao Rio de Janeiro. Sem receber o devido salário, os soldados instalaram-se provisoriamente em alguns morros da cidade, juntamente com outros desabrigados.
Sem verba para a construção de casas, o governo autorizou a construção de casas de madeira nos morros da cidade. A partir daí, os morros recém-habitados ficaram conhecidos como Morro da Favela, em referência à uma planta típica da caatinga extremamente resistente a seca chamada “favela”, originária dos morros onde os soldados viveram durante o período da guerra na Bahia.
Foto: www.jovempretovelho.blogspot.com.br
Com a Proclamação da República em 1889, os administradores da cidade do Rio de Janeiro queriam apagar os vestígios de uma cidade colonial. Cortiços sem condições sanitárias povoados por escravos libertos foram demolidos para a reforma de Pereira Passos. Sem terem onde morar, os desabrigados foram obrigados a ocupar e construir suas casas nos morros centrais da cidade, Providência e Santo Antônio em 1893. Em 1900 foram ocupados os morros dos Telégrafos e Mangueira.
Morro da Providência
Em São Paulo, as primeiras favelas nasceram após o término da 2ª. Guerra Mundial.
Ainda no final do século XVIII, os morros eram chamados também de “bairros africanos”, tendo em vista que esses eram os lugares onde os ex-escravos, sem terra ou opção de trabalho iam morar. Antes mesmo do surgimento da primeira favela, os pobres eram afastados do centro da cidade e forçados a viver em subúrbios distantes.
Visando a modernização das zonas nobres da cidade, mais casas foram demolidas para dar lugar a longas avenidas, fazendo com que as favelas fossem se desenvolvendo em toda a zona sul, bem perto da elite carioca. Era a única saída para que os trabalhadores mais pobres morassem perto do seu local de trabalho, num tempo em que os trens e bondes não chegavam nas periferias da cidade.
O Morro da Babilônia entre a Praia Vermelha e a Praia do Leme começou a ser ocupado em 1907. Dois anos depois apareceram as favelas no Morro do Salgueiro na Tijuca. Em 1912 já haviam comunidades instaladas em Copacabana, além do Morro dos Cabritos entre a Lagoa e Copacabana, o Morro Pasmado em Botafogo e o Morro Santa Marta.
A preocupação do poder público com a nova forma de moradia informal instalada no Rio de Janeiro só aconteceu em 1927 quando o arquiteto francês Alfred Agache apresentou ao governo carioca um plano de urbanização e embelezamento que propunha a transferência dos moradores das favelas por motivos sociais, estéticos e hierárquicos. Apenas alguns pontos do projeto foram levados adiante, mas a ideia de que as comunidades precisavam ser eliminadas permaneceu.
Muitas favelas foram removidas nesse período. Por volta de 1930 surgiram os primeiros loteamentos e conjuntos habitacionais na zona oeste como opção de moradia para a população de baixa renda. Construídos em locais distantes do comércio e com uma estrutura precária, os moradores começaram a organizar-se em associações para reivindicar seus direitos.
Em 1937 foi proibida a construção de novas favelas ou mesmo a melhoria das que já existiam. A lei vigorou até a década de 70.
Em 1948 foi realizado o primeiro Censo nas favelas cariocas, onde a prefeitura afirma, num documento oficial que “os pretos e pardos prevaleciam nas favelas por serem hereditariamente atrasados, desprovidos de ambição e mal ajustados às exigências sociais modernas”. Esta afirmação foi recuperada no livro “Um Século de Favela” e exemplifica como o preconceito em torno das favelas e de seus moradores fixou-se na sociedade brasileira.
Em 1960 o Morro de Santo Antônio foi destruído para a construção do Aterro do Flamengo. Até 1965, 30 mil pessoas haviam sido retiradas das favelas cariocas. O auge da política da remoção ocorreu entre 1968 e 1975 quando 176 mil pessoas foram levadas para 35 mil unidades habitacionais.
Em 1972, cerca de 20% das favelas do Rio de Janeiro haviam sido eliminadas, o que não impediu que outras continuassem surgindo devido ao êxodo rural do Brasil, que levou trabalhadores da zona rural para a zona urbana e sem ter onde viver, foram se instalando pelas áreas mais pobres. Em 1974 o governo suspendeu o plano de erradicação, mas nenhuma outra política foi adotada e as comunidades ficaram sujeitas ao abandono.
O conceito de “aglomerado subnormal” foi usado pela primeira vez no Censo Demográfico de 1991. O termo generaliza, com o objetivo de abranger a diversidade de assentamentos irregulares existentes no Brasil, as invasões de propriedades, as cavernas, vales, comunidades carentes, cortiços, mocambos, palafitas, entre outros.
Para o sociólogo Maurício Libânio, antes mesmo da popularização do nome favela, estes locais já existiam: “É uma condição de moradia expressa pelas camadas mais necessitadas da população, por falta de política habitacional. Desde a época do Brasil colonial, as populações escravas moravam em senzalas ou mocambos. O nome foi evoluindo até os dias de hoje”.
Em 1993 foi lançado um ambicioso projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro, o Favela-Bairro, que em parceria com empresas privadas, tinha o objetivo de integrar as favelas aos bairros e desenvolveu diversas reformas em mais de 150 comunidades.
Segundo o IBGE, mais de 10 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil com renda média de 03 (três) salários mínimos. Só no Rio de Janeiro, existem hoje quase mil favelas onde várias ações do governo, empresas privadas e ONGs estão em andamento para a melhoria da infraestrutura e o ambiente das comunidades.
Estudos da ONU preveem que até 2020 haverá cerca de 1,4 bilhão de pessoas vivendo em favelas em todo o mundo, sendo 162 milhões na América Latina, 52,3 milhões apenas no Brasil.

Dulce Sales

domingo, 7 de outubro de 2012

Babando pelo caruru...

Olá amigos leitores!
Hoje convido vocês a se deliciarem com uma herança africana, talvez mais significativa que temos: a culinária.
Pois bem, depois de muito pensar qual seria o melhor tema para minha primeira postagem nessa coluna, que, aliás, me trás muito prazer ao escrever, resolvi falar de algo bem brasileiro, o frango com quiabo.
Ah, mas o frango com quiabo não é brasileiro! Como assim?
Acreditem! A receita de frango com quiabo é na verdade uma adaptação de um prato feito com quiabos e camarões que é consumido na Angola. Porém, no oeste do continente negro, é preparado com frango. É isso, o nosso frango com quiabo veio da África!
Em sua terra de origem, o nosso famoso quiabo (Abelmoschus esculentus) é conhecido como nafé, quimbobô, gombô, quimbombô, krunbo e gobo. Foi trazido pelos escravos já no fim do período escravagista brasileiro, mas essa planta da família da malva não influenciou somente nossa culinária. Ele deixou rastros pelos E.U.A. e na América Central, certamente uma influencia muito rica e deliciosa.
Muito utilizado na culinária ritualística do Candomblé e da Santeria, o quiabo ganhou o gosto popular e hoje frequenta as mais altas rodas nas mãos de grandes chefs da gastronomia brasileira.
Há algum tempo, uma variedade desse fruto dos Deuses africanos ganhou repercussão mundial: o quiabo vermelho, que hoje, como seu “irmão verde”, se tornou ingrediente da alta gastronomia em toda a Europa.
Quiabo vermelho
Sabores à parte, deixemos de babar por este fruto admirado pelo rei dos Orixás, Xangô, e vamos a uma receita deliciosa que tem origem africana, o “Caruru”, que nos ritos afrodescendentes, é oferecido ao orixá Ibeji, os gêmeos sagrados do povo Yorubá, mas em algumas vertentes do culto é oferecido a outras divindades.
Antes da receita, uma curiosidade: o “caruru” também é o nome de uma planta nativa do norte do país e no prato “caruru” do Pará essa hortaliça típica é acrescentada, mas a nossa receita é do bom e velho “caruru” baiano, recheio de um dos patrimônios tombados do Brasil, o “acarajé”. Então vamos a receita:
Caruru
Ingredientes:
- 250 g de camarões secos
- 1kg de camarão fresco sem a cabeça com a casca
- 1 cebola grande picada
- pimenta seca
- pimenta de cheiro
- 50 g de gengibre
- noz moscada a gosto
- coentro a gosto
- salsa e cebolinha a gosto
- sal a gosto
- 1 xícara (chá) de castanhas de caju moída
- 1 xícara (chá) de amendoim torrado e moído
- 1 kg de quiabo
- azeite de dendê a gosto
Refogue a cebola no azeite de dendê. Acrescente o camarão fresco. Junte os quiabos. Vá acrescentando água aos poucos, deixando cozinhar bem, sem parar de mexer para não queimar e para que o quiabo solte bastante baba.
Bata no liquidificador o camarão seco, o amendoim, a castanha, o gengibre e a noz moscada com um pouco de água, tendo o cuidado de fazer uma massa pastosa, não rala.

Thiago Chagas


Estreia de Guto Reason

Em suas tirinhas, Guto Reason traduz algumas das muitas lendas que formam a rica mitologia africana.
Dono de traços delicados, Guto ficou conhecido na rede social Facebook pela criação de orisàs bebês.
Nas histórinhas, os "bebês" sempre estão em alguma aventura ou encrenca! É uma maneira super divertida de entendermos um pouco mais sobre os orisàs cultuados nos rituais afro-brasileiros.
Divirtam-se! 
 

Museu Afro Brasil recebe "Coleção Ruy Souza e Silva: Tornar-se escravo no Brasil do século XIX"

Exposição integra encontro internacional de bibliofilia
Como parte da programação do Colóquio 2012 da Association Internationale de Bibliophilie, o Museu Afro Brasil recebe a exposição especial “Coleção Ruy Souza e Silva: Tornar-se escravo no Brasil do século XIX”, que fica em cartaz até o dia 31 de dezembro.
Com entrada Catraca Livre, a mostra reúne fotografias, documentos e gravuras que abordam a situação do negro nesta época. A Associação Internacional de Bibliofilia escolhe anualmente um país para realizar visitas a coleções particulares e públicas. Pela primeira vez, o encontro é sediado na América do Sul.
Colaborador de exposições do Museu Afro Brasil e doador de livros raros para a biblioteca da instituição, Ruy Souza e Silva possui uma vasta coleção particular e chegou a orientar o banqueiro Olavo Setúbal na montagem da “Brasiliana Itaú”.
Confira algumas imagens da exposição:
 Autor desconhecido

 Fotógrafo: Christiano Jr.

Fotógrafo: Alberto Henschel Dame Breselienne

Fonte: http://catracalivre.folha.uol.com.br/2012/09/museu-afro-brasil-recebe-colecao-ruy-souza-e-silva-tornar-se-escravo-no-brasil-do-seculo-xix/

Cultura à mesa

Não há como negar a presença dos hábitos portugueses, indígenas e africanos na variada e maravilhosa culinária brasileira.
A cozinha de herança africana no Brasil foi e é adaptativa, criativa e legitimadora de muitos produtos africanos e não africanos que hoje são reconhecidos como regionais ou nacionais.
O nosso tão "praiano" coco-verde veio da Índia, passando antes pela África Oriental, África Ocidental, Cabo Verde e Guiné, para então fixar-se no nordeste brasileiro.
O dendê é uma das marcas da cozinha genuinamente africana no Brasil e o dendezeiro é sagrado para o povo Yorubá, sendo conhecido como igí-opé.
A alimentação cotidiana na África que foi incorporada à comida brasileira pelos escravos no século XVI, incluía arroz, feijão, sorgo, milho e cuscuz. A carne era predominantemente de caça, tais como antílopes, gazelas, búfalos e aves. Os alimentos eram preparados assados, tostados ou cozidos.
Um cronista da época, Luís dos Santos Vilhena, professor de grego na Bahia no fim do século XVIII, de lá escreveu uma série de cartas a um amigo em Portugal, publicadas em um livro de notícias soteropolitanas e brasílicas com o título ainda barroco de Recopilações (1a edição: 1802). Disse Vilhena, na Carta Terceira:
"Não deixa de ser digno de reparo ver que das casas mais opulentas desta cidade, onde andam os contratos e negociações de maior porte, saem oito, dez e mais negros a vender pelas ruas, a pregão, as coisas mais insignificantes e vis: como sejam, mocotós, isto é mãos de vaca, carurus, vatapás, mingaus, pamonhas, canjicas, isto é, papas de milho, acassás, acarajés, abarás, arroz de coco, feijão de coco, angus, pão-de-ló de arroz, o mesmo de milho, roletes de cana, queimados, isto é, rebuçados a oito por um vintém e doces de infinitas qualidades, ótimos, muitos pelo seu aceio, para tomar por vomitórios; o que mais escandaliza é uma água suje feita com mel e certas misturas que chamam aluá que faz por vezes de limonada para os negros."
Feijões variados, milho, inhame, quiabo acrescido de camarão defumado ou fresco, gengibre, pimentas e óleos vegetais como o azeite-de-dendê formam a base de uma mesa onde reinam acarajés, abará, vatapás de peixe e frango, bobós, carurus, entre tantas outras delícias.
A alimentação dos escravos em ricas propriedades incluía canjica, feijão preto, toucinho, carne seca, laranjas, bananas, farinha de mandioca e o que conseguisse pescar e caçar. Já nas propriedades menos favorecidas, comia-se farinha, laranjas e bananas.
O cuscuz tem sua origem no norte da África, entre os berberes e já era conhecido entre os escravos que para cá vieram. No Brasil, o cuscuz é consumido doce, feito com leite e leite de coco ou salgado, o chamado cuscuz paulista, consumido com ovos cozidos, cebola, alho, cheiro-verde e outros legumes.
Impossível não falar do mais importante prato da culinária brasileira: a feijoada. Feita com feijão preto e restos de carne não nobres, os escravos desenvolveram essa deliciosa receita até hoje apreciada por pessoas do mundo inteiro.
Os temperos utilizados eram o açafrão, o óleo de dendê e o leite de coco. O leite de coco é usado para regar peixes, mariscos, arroz-de-coco, cuscuz, mungunzá e outros pratos doces e salgados.
E por falar em doces, o manjar de coco do jeitinho que conhecemos por aqui, é o resultado da adaptação feita pelos escravos africanos que, aqui em terras brasileiras, modificaram a receita originalmente persa, trazida para o Brasil pelos portugueses. O manjar que tinha como base o peito de frango, foi substituído pelo leite e a polpa do coco.
Há ainda os cardápios sagrados dos terreiros de candomblé, que trazem alimentos como o ipeté, o amalá, o acaçá, o lelê, o deburú, o abará e bebidas como o aluá, feito de milho, rapadura, gengibre e água.
A marca feita pela cultura africana em nossa culinária é forte e profunda. Desde o mais simples e saboroso arroz com feijão até o delicioso manjar de coco, é certo estarmos partilhando dessa rica e fascinante cultura que nos fez reconhecidos mundialmente por nossas iguarias.
No nosso próximo encontro, espero vocês para descobrirmos a origem das favelas no Brasil.
Espero você!
Abraços!

Dulce Sales