domingo, 21 de outubro de 2012

Quente ou frio?

Quem nunca ouviu essa história:“A baiana me perguntou se eu queria quente ou frio, e eu respondi quente, lógico! Daí fui comer e não consegui porque estava muito picante...” ?
Pois é, a culpa disso é do dendê e não da pimenta como muitos pensam. O azeite de dendê, quando usado para fritar o acarajé, deixa a massa muito picante. Lógico que as baianas também tem um molho de pimenta bastante picante, mas delicioso!
De fato o azeite de dendê é uma iguaria maravilhosa e “perigosa” para os mais sensíveis a ele. Culpado por inúmeros desarranjos intestinais, esse líquido avermelhado foi trazido pelos principais fundadores de nossa cultura, em nome de seus deuses, em caravelas portuguesas à partir do século XVI, coincidindo com o início dos tráficos de escravos entre a África e o Brasil.
Hoje é produzido em larga escala no Brasil e é quase indispensável em uma boa moqueca. No caruru, abará, aberém, acarajé, vatapá e xinxim de galinha, ele também é fundamental. Nas casas de Candomblé, não só nas comidas ritualísticas, o “Epô” como é conhecido, foi um presente de “Barà” ou “Esú” (pronuncia-se Exú), que inventou tanto a faca quanto o azeite de dendê. Essa iguaria trazida de Gana (apesar de utilizado em quase toda a África), também é utilizado em rituais e até na limpeza de certos objetos ritualísticos.
Consumido há mais de 5000 anos, o azeite de dendê, hoje é o segundo óleo mais produzido e consumido no mundo, representando 18,49% da produção e 20,40% do consumo mundial, e poderíamos chamar sua história de “A saga da palma - da costa africana para o mundo, passando pelo tabuleiro da baiana”.
Extraído a partir do fruto da palmeira conhecida como Dendezeiro (Elaeis guineensis), o azeite de dendê é hoje utilizado não só na culinária, mas também na fabricação de sabão e vela, para proteção de folhas-de-flandres e chapas de aço, fabricação de graxas e lubrificantes e artigos vulcanizados (o que é uma novidade para mim). A extração do óleo é um processo muito demorado e ocorre de várias maneiras. Mesmo no processo industrial, o processo é bem rústico. Geralmente se extrai de maneira mecânica, prensando o fruto descascado ou fervendo o mesmo. Eu já experimentei extrair o óleo em casa. Foi uma ótima experiência, apesar de nunca mais fazer novamente devido ao tempo que se gasta e o difícil acesso ao fruto.
Pois bem, essa coluna não estaria completa sem uma boa receita com dendê, então aí vai o Camarão Tropical:
Ingredientes:
400 gramas de tomate, cebola e pimentão.
250 gramas de camarão cozido.
01 colher de sopa de azeite de dendê e outra de azeite
Chuchu, cenoura e batata, 100 gramas de cada
02 xícaras de molho de tomate
50 gramas de abacaxi
Azeite de oliva
Cheiro verde, coentro e sal a gosto
1/2 litro de leite de coco
02 colheres de sopa de amido de milho dissolvido em água
Preparo:
Na frigideira, o azeite de oliva e a metade do óleo de dendê para fritar o camarão. Separe. Em outra panela, o restante do dendê para refogar as verduras e legumes. Junte o molho de tomate, o leite de coco. Misture o camarão, acerte o sal e acrescente o abacaxi. Sirva na casca do coco.

Thiago Chagas

Um comentário:

  1. Eu nunca ouvi uma Baiana de Acarajé pergunta isso?! Quem inventou essa mentira? Carioca ou paulista?

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