domingo, 14 de outubro de 2012

A arte Yorubá e sua relação com o divino

Minha admiração pela influencia estética africana no Brasil é tanta que resolvi falar um pouco sobre o assunto.
Da África até Brasil muita coisa aconteceu e se modificou, por isso resolvi em um texto breve e curto (muito mais curto do que desejava) contando fatos que deram origem a toda beleza de um povo e a sua evolução. Então, deleitem-se com essa que, na minha opinão, é a mais rica cultura do mundo.
Na maioria das culturas ditas "primitivas", a arte sempre teve papel importante nas tradições religiosas, não sendo diferente na cultura Yorubá. A arte desenvolve um papel de importância ímpar e isso se deve ao fato dessas culturas serem tradicionalmente orais.
Arte africana
Talvez a mais conhecida e importante sob o aspecto arqueológico seja a de Obalufon, rei que conseguiu unir todo o territorio Yorubá, partindo da cidade de Ifé. Existem contradições quanto a informação que Obalufon seria Ododuwa (orixá das casas de Keto do Brasil), o grande rei que deu origem as tradições religiosas do povo Yorubá. Tais tradições teriam dado início ao culto do Candomblé de Keto no Brasil, na Casa Branca do Engenho Velho em Salvador. Em um ato de resistência cultural, Iya Nassô Okà, uma aprincesa de Yoyó, conhecida cidade de reino Yorubá, com a ajuda de outros de seu povo, instituiram oque seria para eles um "pedaço da África no Brasil". Claro que com o passar dos anos, a estética das roupas e até de outros elementos da religião sofreram interferências.
Obalufon
A máscara fúnebre de Obalufon hoje se encontra no museu do Instituto Pierre Verger na França. Originalmente raspava-se a cabeça e a barba e essas erão costuradas nas máscaras em meio a um ritual que poderia ser considerado mais como um festejo do que como um ritual fúnebre.
Sendo a religião Yorubá um culto aos ancestrais, alguns estudiosos das religiões afro-descendentes brasileiras, associaram Obalufon ao orixá Oxalufan, dizendo que Obá (título de nobreza) e Lufon (se pronuciaria Lufan) seria seu nome.
Contradições à parte, o fato é que Obalufon depois de sua morte, deixou seus herdeiros espalhados pelas cidades do reino Yorubá. Suas cinco esposas (que eram as cinco Yabás, orixás femininos) deram à luz aos orixás masculinos (Omborós), mas existe uma região do reino Yorubá em especial, onde as máscaras são a base do culto religioso. Esse povo chamado Gelede, é hoje uma sociedade secreta que cultua o feminino. Esse culto é voltado às Iyà Amim Xoronga, as mulheres mais velhas do reino Yorubá e que são consideradas as bruxas (Àjés). No Brasil, uma pequena parte dos sacerdotes do Candomblé cultuam essas forças e uma grande parte as teme, talvez em virtude das lendas associadadas à elas. Nessa sociedade secreta, os homes usam máscaras para se passarem por mulheres, como uma forma de aplacar essa força, devido ao seu poder tanto construtivo quanto destrutivo, e se vestem com ricas roupas feminas e jóias imponentes.
Máscara Gelede
As máscaras Gelede são ricas em elementos místicos e estéticos. Existem máscaras diferentes para cada ritual e força a ser invocada. Como é uma tradição ancestral, muitas delas são usadas para representar essas forças ancestrais e possui detalhes esculpidos que representam o que dessas forças se deseja. As mais antigas foram feitas de bronze. Atualmente elas são confeccionadas em madeira e são em grande parte coloridas, o que não foge à regra da arte africana tão rica em cores, com muitos elementos da natureza retradas, cada um com seu significado mítico e sua importância hierárquica, pois as máscaras também são usadas para diferenciar os adeptos quanto à sua posição na hieráquia dessa sociedade.
Máscara Gelede
No Brasil, as máscaras deram uma grande contribuição para os chamados "aparamentos" dos orixás nas casas de Candomblé e nas roupas dos "Egunguns", no culto ao mesmo. Nas casas de "Egunguns", as roupas ritualísticas usadas durante o transe, cobrem todo o corpo e rosto. Esse culto teve também uma interferencia cultural européia, mais bem menos que o candomblé.
Máscara Gelede
Em se tratando de vestimentas, o povo Yorubá teve durante sua evolução estética a influência da região muçulmana na África com o que é chamado de "alaká" no Brasil, e não podemos esquecer da influencia da estética africana na nossa cultura, com suas cores, formas e estampas, estética essa que até hoje é difundida pelo mundo através da alta costura, por sua qualidade incontestável.
Quem nunca admirou as baianas? Pois bem, esse é o maior exemplo de evolção estética que temos como visualizar. Elas são super coloridas com seus "tobossis" enormes e coloridos, e suas vestes pesadas e armadas por anáguas. As saias armadas são inegavelmente influência européia, porém o os "ojás" e "panos da costa" que são postos por cima das "batas" são de origem africana.
Baianas
Os colares, pulseras e brincos grandes são na verdade, adaptações dos ornamentos originais, pois na África as mulheres tem o hábito de se enfeitar por motivos religiosos e não por vaidade. Os colares, por exemplo, se devem ao fato de por muitos anos as mulheres do candomblé terem sido proibidas de usarem suas "contas" (colares de cunho ritualistico).
Essa evolução dada por adaptação, em virtude das proibições que o povo negro sofreu no Brasil, gerou uma estética rica e admirável, e não podemos negar que essa evolução tambem é uma linda demostração da força e resistência cultural desse povo, de pele linda e formas imponentes que ajudou a gerar toda a cultura de um país extremamente rico.
Bem, esse texto foi também um depoimento pessoal sobre interferência cultural. Aqui tivemos um resultado belíssimo, mas a interferência cultural pode ser desastrosa.

Thiago Chagas

Um comentário:

  1. oi boa tarde sou Jorge dofonitinho de ode kare queria saber o porque um vodunsi nao pode usar mascaras mesmo que em fantasias

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